Por Onofre Ribeiro
Escrevi neste espaço na última sexta-feira o artigo “Mais do que parece”, falando das percepções que vi no Enipec – Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária, que se realizou em Cuiabá nos dias 28 a 30, sob a temática: “sustentabilidade é negócio?”. Recebi manifestações de surpresa de muitos leitores, e o costumeiro preconceito de muitos que ainda consideram que a agricultura, o agronegócio e a pecuária são atividades menores e não merecem reconhecimento. Mas essa burrice urbana não é nova.
Neste artigo gostaria de traçar algumas reflexões. Primeiro, em 1976, quando mudei-me para Cuiabá, nos primeiros seis meses viajava de carro duas vezes por mês de Cuiabá-Brasília-Cuiabá para ver a família que ficou lá. No trecho de 900 km entre Goiânia e Cuiabá, cruzava com duas carretas, no máximo. Não havia o que levar e nem o que trazer. Hoje, nos 200 km entre Cuiabá e Rondonópolis passam 10 mil carretas diárias. Essa é a diferença construída nesses 32 anos pela gente que vive em Mato Grosso.
Segundo, na época o governo federal precisava ocupar a Amazônia, que era completamente desconhecida. Através de programas federais e das pesquisas da eficientíssima Embrapa, convocou gente de todos os lados e eles entraram no que se chamava então de “inferno verde”. Cerrado e Amazônia eram coisas estranhas aos brasileiros. Esse pessoal batalhou, errou, acertou, mas ocupou e fez produzir onde se dizia que “cerrado só servia pra criar lagartixa”.
Terceiro, esse mesmo pessoal espalhou-se regionalmente no estado de Mato Grosso, fundou cidades e os 38 municípios de então hoje são 141, a população que era de 1 milhão e 39 mil habitantes hoje é de quase 3 milhões. Todos daquela época, nascidos e não-nascidos em Mato Grosso já entregam ou entregaram os negócio já estão para a segunda e terceira gerações.
Esta geração nova de produtores, de técnicos, de estudantes estava no Enipec buscando respostas para o tema “sustentabilidade é negócio?”. As palestras foram claríssimas: não haverá mercado para produtos sem origem ambiental, social e economicamente sustentados. E ficou mais claro, ainda, que a produção é um negócio, e que a sustentabilidade ambiental é outro grande negócio. Não se trata de preservar radicalmente. Trata-se de produzir e de integrar o meio ambiente de forma que ele também produza renda. Lá fora compreende-se essa nova linguagem mundial.
E aqui, os produtores estão cientes disso, porque precisam continuar produzindo, porque investiram a sua vida no seu negócio, e porque os mercados mundiais são compradores firmes e, em ascensão, de grãos e de carnes pelos próximos 10 anos.
Mas a frase mais interessante que tirei do Enipec foi do palestrante que disse: “o futuro está na gestão da terra e do meio ambiente. Chega de bate-boca entre ambientalistas e não-ambientalistas ou autoridades de governo. A hora agora é da ciência produzir respostas para esse paradigma. O espaço agora deve ser dos cientistas”.
Bom. Trouxe essas reflexões para tranqüilizar a população urbana de que tempos novos estão tomando conta do nosso tempo de produção em Mato Grosso.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e das revistas RDM e Centro-Oeste