Pela segunda vez Colniza aparece no mapa da violência no Brasil. Desta vez junto com Juruena e Itanhangá, municípios localizados na Amazônia noroeste de Mato Grosso. É fácil apontar a situação e, mais fácil, ainda crucificar quem vive lá. No ano passado estive na região fazendo palestras para o Sicredi-Univales, sediado em Juína, que faz parte da mesma região e conheci bem a região.
Toda a culpa do que vem acontecendo ali é do Estado. Tanto federal quanto estadual. E não é de hoje! Começou com o Incra, que atraiu gente sem terras e sem recursos do Brasil inteiro, principalmente do Nordeste, no começo da década de 80, para povoar o Território Federal de Rondônia e dar-lhe condições de se transformar em estado da federação. Critério, nenhum! O Incra, todo mundo conhece. Esse pessoal foi usado e jogado em Rondônia, depois do fim do regime militar. Grande parte voltou até Cuiabá e ajudar a favelizar a capital, já que nem condições de voltarem à sua terra tinham mais. Pegaram sucessivas maleitas, envelheceram, enfraqueceram e acabaram num canto qualquer de Cuiabá.
Outros, foram para o Noroeste de Mato Grosso onde ocuparam terras da União, reservas indígenas e parques, invadiram, juntaram-se a grupos do MST ou ficaram mesmo avulsos vivendo do extrativismo vegetal ou da extração de madeira. O Incra continuou ausente dessas ocupações e da confusão fundiária que se montou em toda a região Noroeste, até próximo de Alta Floresta, já no Nortão. Basta olhar o mapa e ver a faixa da confusão. Já o Ibama, reconhecidamente um órgão incompetente, sempre fez vistas grossas ou participou de corrupção na questão da extração da madeira tanto em áreas federais, privadas ou de reservas indígenas.
A falta de estradas entre uma sede paupérrima de município como é Colniza, e o Distrito de Guariba a 150 km, no meio da floresta, torna fácil de entender como se resolvem os conflitos. É com a justiça possível que se tem à mão, e ela vem armada por quem tem mais poder.
A conclusão , então, é:
1 – o governo atraiu essa gente, hoje sem pátria e sem futuro, de suas regiões nas décadas de 70 e 80 para ocupar a Amazônia e para povoar Rondônia. Depois os abandonou;
2 – O Incra nunca tomou conhecimento deles e nem da confusão fundiária que se armou em toda a região Noroeste e parte da região Norte de Mato Grosso, do Sul do Amazonas e de Rondônia. Hoje vive-se ali uma babilônia fundaria, irregular e violenta;
3 – A extração da madeira ajudou, assim como os garimpos de ouro e de diamante. Serviu para sustentar aquela gente pobre e empobrecida. De repente, caído do céu, o Ibama desceu lá com seus helicópteros cheios de burocratas travestidos de fiscais e pôs o mundo abaixo, às vezes com a ajuda de policiais federais;
4 – A confusão social, fundiária, os conflitos com as etnias indígenas, a falta de infra-estrutura produziram o que está lá.
Não adianta encher páginas de jornais e a mídia com denúncias de violência. Tinha que se denunciar antes coisa pior que motivou isso: o abandono daquele gente!
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM